O software Livre traz alguma vantagem para a Educação? Acrescenta a ela algum tipo de liberdade, alguma possibilidade de autonomia? Podemos abordar a questão por diversos aspectos. Tentarei tratar apenas os que me parecem mais urgentes e pertinentes para nós estudantes.
O que compramos na loja não é o programa em si, mas o direito de usá-lo. Por exemplo, quando compramos um CD de música, não compramos as músicas em si, mas adquirimos o direito de ouvi-las.
Já os "Softwares livres" podem ser utilizados, modificados, adaptados por qualquer um que tenha competência para tal, sem necessitar de autorização de quem quer que seja para fazê-lo. O programa não tem um dono que recebe direitos a cada vez que o programa é comercializado ou utilizado.
Qual a vantagem de utilizar Software-Livre?
Ao escolher utilizar programas proprietários, fica-se sempre na dependência de seu fabricante para cada novo recurso que se quer utilizar. Quem tem um scanner antigo (acessório que digitaliza imagens) ou uma câmera digital antiga talvez não consiga utilizá-la com as versões mais novas do Windows. Por outro lado, quem tem um computador com versão antiga do Windows não consegue usar direito os programas mais recentes. Não consegue porque os donos desses programas os desenvolvem apenas para as versões mais modernas do sistema operacional. E não podemos modificar o Windows que temos para que ele se adapte aos novos recursos que pretendermos usar. Não podemos fazê-lo porque ele é um programa proprietário, apenas a empresa que detém seu direito autoral detém acesso aos códigos de instruções dos programas para modificá-lo.
Usando "softwares livres" nas instituições de ensino públicas, quando um novo recurso é lançado, podem montar um grupo para adaptar o sistema e fazê-lo "aceitar" o novo recurso. Isso porque o código fonte é público, todos podem ter acesso a ele e, quem sabe programar na linguagem em que ele foi escrito pode modificá-lo.
É o que nossa Instituição de Ensino, a UFSM, deveria estar fazendo, desenvolvendo sua própria interface para o Linux e adaptando-o para que atenda suas demandas. Para, desde já possuir um sistema operacional que seja "leve", "enxuto" e personalizado, que possa dar sobrevida aos computadores com vários anos de uso e consequentemente "ultrapassados". Além de dar uma sobrevida bem mais longa aos computadores atuais que daqui a algum tempo (pouquíssimo tempo) com certeza precisariam ser atualizados caso continuem a utilizar um Sistema Operacional proprietário. Assim, os computadores que de outra forma seriam considerados obsoletos porque não conseguirem rodar a versão mais moderna do Windows, continuaria útil para a maior parte das necessidades da Instituição. E o recurso que seria investido em novos computadores pode ter outra destinação.
E tudo isso aconteceria criando tecnologia local. Quem desenvolveria os programas seriam os acadêmicos, professores e servidores da UFSM, que aprenderiam e criariam tecnologia própria. Em lugar de importar tecnologia, criaríamos tecnologia de qualidade em nossa própria instituição.
Isso é um exemplo claro de como o uso de tecnologia livre amplia a liberdade de escolha a autonomia tecnológica e o desenvolvimento de capacidades locais.
Sem isso, o fabricante de programas de computador determina quando um computador deve ser substituído: a data é resultado do lançamento de uma nova e mais "poderosa" versão do sistema operacional e não a falha ou inadequação do equipamento a seus fins. Com o uso de programas livres, os acadêmicos, professores e servidores da UFSM poderiam continuar a usar o equipamento para os fins aos quais ele ainda atende.
Quanto custa/custaria um computador para a UFSM?
Um computador, para funcionar, precisa ter programas instalados. Quando usamos programas proprietários, este custo costuma chegar ao dobro do preço do computador em si devido às licenças que devemos pagar para utilizá-los. Isso se usarmos apenas os programas mais comuns, sem incluir aí nenhum programa educativo especial.
Usando Software livre, tipicamente faz-se, num primeiro momento, investimento equivalente em vulto financeiro, mas não na compra de licenças de uso e sim em treinamento inicial e suporte. Ora, qual a diferença entre um e outro, que justifique o uso de programas livres?
O investimento em licenças, no caso dos programas proprietários, resolve um problema inicial aparentemente sem grandes esforços: compram-se as licenças, instalam-se os programas e vamos em frente.
Não é bem assim. Em qualquer caso será necessário, depois de instalar os programas, preparar as pessoas para usá-los. E uma preparação superficial e pouco cuidadosa resulta em usuários pouco críticos e com conhecimento superficial dos recursos, o que diminui as chances de serem criativos na sua exploração como instrumentos de apoio ao projeto pedagógico como também a uma subutilização do desses instrumentos.
O investimento pesado em formação dos os acadêmicos, professores e servidores da UFSM e suporte a esses, ao contrário, deve viabilizar a consolidação de um grupo de usuários com amplo domínio dos sistemas, capazes de criar novas soluções e dar suporte a seus pares. A criação e o desenvolvimento de novas possibilidades de uso da tecnologia passam a ser resultado do trabalho da própria comunidade Universitária.
O grande diferencial é que se cria e se instala cultura na comunidade. Investindo em formação em lugar de licenças de uso, ampliamos as possibilidades de trabalho para comunidade, em competência profissional e tecnológica e em autonomia no uso das tecnologias de informação e comunicação. Isto é liberdade: liberdade de criação, de uso, de escolha...
Criando uma nova cultura!
É comum, quando converso sobre as vantagens do software livre, a maioria me respondam: "mas meu computador já veio com os programas instalados e eu não paguei nada por isso!".
Das duas uma: ou o preço dos programas está embutido no preço do computador ou os programas são cópias ilegais.
No primeiro caso, o usuário está sendo flagrantemente enganado: acredita que ao comprar o computador ganhou de graça uma coleção de produtos que, na verdade, custou 2/3 do valor de sua compra.
No segundo caso, talvez mais grave, o usuário está contribuindo, sabendo-o ou não, para uma prática nada recomendável: está usando um produto a que não tem direito. .
A liberdade é construída e conquistada. Exige esforço e empenho. Na Universidade, este esforço é sua própria razão de ser: o esforço de criar competências que habilitem tanto os alunos, como, a comunidade a fazer escolhas e construir caminhos próprios.
O software livre em seus princípios busca oferecer a todos a possibilidade de acesso ao conhecimento, no caso programas de computador, e intervir no processo de construção desse conhecimento. Neste sentido, esta tecnologia está essencialmente vinculada a princípios democráticos de distribuição de conhecimento e da possibilidade de construí-lo para e por todos, e não apenas por razões estritamente comerciais.
Uma Universidade EDUCA deve ser uma Universidade que EDUCA com liberdade.
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